10 de janeiro de 2010

Princesas do Século 21

Dançando valsas ou em “baladas” adaptadas, o glamour das debutantes volta à moda em festas que chegam a custar o valor de um carro médio.

Por Laila Mahmoud



Endinheiradas ou não, jovens por todo o Brasil voltam a comemorar seus quinze anos e chegam a gastar o valor de um carro para realizar seu sonho. Não há estatísticas oficiais sobre o mercado de eventos, mas segundo Flávio Rodrigues, diretor do Noivas & Cia., portal de informações sobre empresas da área, estima-se que dos R$ 8 bilhões negociados pelo setor anualmente, R$ 1 bilhão vem dos cerca de 50 mil bailes de debutante, cada um custando entre R$ 15 mil e R$ 30 mil.



Ainda que a tradicional cerimônia com casais, vestido, velas e anel possa parecer démodé para algumas jovens, o cerimonial tradicional do début é o mais adotado. Basta conferir a maior rede de relacionamentos da internet: só no Orkut é possível encontrar 111 comunidades relacionadas ao tema. E quem acha que os participantes são um conjunto de vovós que ficam relembrando seus tempos de “apresentação à sociedade”, está muito enganado. Na comunidade “Debutantes” são 1,5 mil membros debatendo assuntos como a cotação de preços de DVD, “como lidar com a ansiedade”, “quinze casais para a dança ou não”, “debutar coletivamente ou não” e o medo de cair da escadaria.



Rodrigues afirma que, de cinco anos para cá, houve um aumento do número de festas, após uma grande queda ocorrida nos anos 80 e 90. Segundo ele, a enorme procura pela comemoração entre famílias não tão abastadas está diretamente ligada à falta de outras possibilidades de aparição social – os tais “15 minutos de fama” de que já falava o artista plástico Andy Warhol nos anos 60. “Quem tem mais poder aquisitivo tem outras possibilidades de aparecer na sociedade”, afirma.



Mas, em se tratando de adolescentes, parece claro que os tais quinze minutos sejam um desejo, sobretudo, das mães das debutantes. Esse é o caso, por exemplo, da família Moroiche. “Resolvi fazer a festa de repente. Larissa, minha filha, decidiu fazer a festa dia 28 de fevereiro e ela aconteceu dia 21 de abril”, lembra Mônica Moroiche, a mãe coruja que, na correria, desembolsou nada menos que R$ 31 mil na comemoração. “Eu sempre quis que ela fizesse a festa, mas ela disse, aos 13 anos, que preferia viajar”. O primeiro passo foi contratar um buffet e encontrar o local da celebração. Mônica já vinha guardando dinheiro para a comemorar os quinze anos da filha e, por isso, pôde optar pela contratação de uma cerimonialista (pessoa encarregada de ajudar na organização e condução da cerimônia) para acompanhar todos os preparativos. Ela se reunia com a profissional uma ou duas noites por semana para decidir book, aluguel de salão, roupas e afins. Por fim, optaram por fechar uma boate para 280 convidados e foram gastos, ao todo, R$ 110 por convidado. Se ela se arrepende? “Valeu a pena para mim, para minha família toda. Depois da festa ela me disse ‘nunca pensei que minha festa pudesse ser tão bonita’. Foi uma realização”, recorda Mônica, que só não ficou mais emocionada porque a filha não usou um kimono antes da troca do vestido para a valsa. Larissa tratou de imprimir sua marca pessoal ao bolo, ao vestido e às lembranças da festa entregues – réplicas do bolo e CDs com sua própria seleção de músicas.



Há oito anos cerimonialista em Belém (Pará), lugar onde o mercado sempre se manteve aquecido, Alice Machado afirma que já organizou festas de R$ 60 mil para 700 convidados. E não só os valores são grandes: Alice faz cerca de 40 a 50 festas de debutante por ano, mais do que sua média de 30 casamentos anuais. Mas ela não organiza somente os bailes coletivos, nos quais há os tradicionais quinze casais. Segundo Alice, as jovens gostam muito mais da festa de aniversário de 15 anos “customizada” do que propriamente desses bailes coletivos. A mudança do modelo tradicional é uma das responsáveis pela renovação da comemoração, que hoje tem máscaras personalizadas fluorescentes, decoração inspirada em filmes de Hollywood e pulseiras de néon. Tudo para dar um toque bem pessoal à festa e fazer com que a preparação vire parte da celebração. Mas há variações pra todos os gostos. Algumas jovens chegam a distribuir pulseirinhas, óculos e câmeras descartáveis para captar momentos inusitados da festa. Malabaristas nas mesas de drinques também são requisitados, assim como bandas ao vivo, jantares típicos, convites personalizados em forma de mousepad com fotos do aniversariante junto de seu amigo. Em festas mais abastadas, atores globais campeões de cartas são convidados para dançar a valsa. Festas temáticas também são moda e os motivos mais comuns são anos 60, “festas do pijama” (onde todos vestem o traje), festas-luau (decoradas com tochas), e mesmo revivals da infância, com direito à piscina de bolinhas e tudo.



A mais nova moda, especialmente nas grandes capitais, são festas com Lan House. Essa pedida é comum, por exemplo, no Buffet Mediterrâneo que, em dezembro de 2005, já tinha 12 ou 15 festas programadas para seu salão teen. No buffet, 40% das datas para festas anuais são reservadas para as debutantes e há quatro anos a demanda cresce 30%. Lá, uma festa para 200 pessoas sai entre R$ 15 mil a R$ 20 mil, sem contar o consumo de cerveja, whisky, vinho, o cerimonialista e o jantar, já que o valor inclui apenas o coquetel, refrigerante e água. O aluguel do salão sai por R$ 2,5 mil a R$ 5 mil por noite.



Vontade das Filhas



Quem pensa no baile de debutante hoje só como um sonho dos mais velhos, o pai ou a mãe, uma surpresa: há histórias como a do buffet Glamour e Gourmet - no qual a demanda por festas de debutantes chegou a aumentar 15% - em que a menina é que queria a pompa e os pais que não queriam “pagar mico”. Em uma ocasião, ao ouvir a sugestão de dançar valsa com todos de roupa de gala, prontamente o pai de uma debutante afirmou que não iria “de pingüim”. “Sofri com ela”, diz Vitoria Langenfeld, a dona do buffet. “Uma menina nessa idade está cheia de inseguranças, mas os contratantes eram os pais”. “Chegou ao ponto de mostrarmos o DVD do cerimonial e o pai dizer que não era para chamar ninguém dos amigos”, afirma. Mas esse é um caso que foge à regra. O que mais existe mesmo são mães com sonhos muitas vezes não realizados e filhas que querem festas mais modernas. “Nesse caso, propomos um trabalho completo e tiramos o que é decisão da família”. “Todas curtem o ritual, ainda que não assumam. Todas querem ser o ponto alto da festa”, afirma. Mas, segundo ela, a procura pela valsa e o tradicional “bolo humano” tem diminuído enormemente.



Sócia do Buffet Sempre Presente, na cidade de Santos, no litoral de São Paulo Verônica Rufino Bredariol tem mais história para contar mesmo é na condição de mãe que quer os arranjos tradicionais. Seu desejo de fazer a festa da filha (que ainda tem 12 anos) conforme reza o figurino tradicional não surgiu do fato de ela não ter tido uma festa para si. Verônica chegou sim a comemorar seus quinze anos. “Mas levei uns punks para a festa, coloquei uma roupa preta e fui ouvir Sex Pistols” conta, em tom de arrependimento, a primeira-neta e primeira sobrinha de uma família de Santo André, São Paulo, que foi punk só durante um ano. Hoje, ela sonha realizar a festa da filha como a que sua mãe queria para ela.



Os custos






Painéis gigantes realizam a fantasia de ser atriz



Vitória Langenfeld afirma que uma boa medida para avaliar o preço de uma festa de debutantes é comparar com o de um carro. Segundo Denis Roger Torres, gerente comercial da Nucleo A, empresa de fotografia há 20 anos no mercado de eventos e há cinco no de festas de debutantes, é possível gastar até R$ 15 mil só nos efeitos especiais. Foi o que aconteceu com uma debutante que escolheu Hollywood como motivo para sua festa. A noite de princesa da jovem foi, na verdade, uma noite de protagonista de filmes. Na ambientação, dois banners-cartazes de cinema gigantes, com dois metros de altura por três de comprimento, com fotos dela devidamente caracterizada como atriz, e um banner de 20 metros por um metro causavam impacto nos convidados (veja as fotos em nossa galeria). Torres explica que as festas de 15 anos saíram de moda durante uma década e só voltaram de uns cinco anos para cá. E com demandas diferentes. “Há cinco anos tínhamos 15 casais, agora o pessoal têm inovado mais. Algumas debutantes têm mais do que dois vestidos, há mágicos interagindo na festa, barmans que fazem malabares enquanto preparam os drinks e atrações circenses, como pirofagia”, explica. Pelo menos metade de sua procura é para festas de quinze anos.



No caso da família Moroiche, decoração e book custaram mais R$ 3,5 mil e R$ 1,8 mil respectivamente, preços que variam de acordo com o pagamento. Uma dica para esse tipo de festa é sempre pagar à vista, pois há abatimentos consideráveis, eles chegam a 15% dos valores oferecidos. Para quem pensa que esse é um gasto apenas das jovens abastadas, é bom lembrar que as classes de renda mais baixa também procuram esse tipo de festa. Famílias com renda até R$ 4 mil por mês são um perfil corriqueiro, por exemplo. Verônica, do Sempre Presente, já chegou a cobrar parcelas de R$ 800 mensais a famílias cuja renda não ultrapassava os R$ 2 mil mensais. Ainda que existam clientes que quitem à vista festas de R$ 32 mil, o mais comum são aqueles que dividam tal custo em 10 ou 12 parcelas a serem pagas antes do evento, às vezes, com muita antecedência mesmo. No buffet Mediterrâneo, por exemplo, a negociação do calendário até 2008 segue a pleno vapor. É importante lembrar: a festa não acontece se tudo não estiver quitado até 48 horas antes do evento. Parece que a tradição do tempo da vovó está se renovando, mas não desaparecerá tão cedo.

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